segunda-feira, 28 de maio de 2012

1.000 acessos


Em menos de 2 meses, alcançamos mais de mil acessos no blog da LAPAT. Isso certamente é reflexo do nosso esforço em produzir conhecimento e também do interesse de todos que acompanham este trabalho. Agradecemos aos colaboradores e a todos os leitores. Estamos abertos a críticas e sugestões para que possamos fazer um trabalho cada vez melhor. Obrigado.
Equipe LAPAT

domingo, 27 de maio de 2012

Doença de Gaucher



     A doença de Gaucher é uma doença de depósito lisossomal, caracterizada pelo acúmulo de glucosilceramida nas células do sistema macrófago/monócito. É decorrente da deficiência hereditária da enzima lisossomal β−glicosidase ácida. Existem três subtipos clínicos, todos herdados com caráter autossômico recessivo. O tipo 1, ou tipo adulto, é o mais comum. Os tipos 2 e 3 ou, respectivamente, formas infantil e juvenil, são mais raros e cursam com comprometimento neurológico (formas neuronopáticas). O tipo 1 é a doença de estoque lisossomal mais comum e a doença genética mais prevalente entre judeus Ashkenazi, com uma incidência de aproximadamente 1/1.000 e freqüência de portador de 1 em 16 a 1 em 18.
     A gravidade clínica em geral se relaciona com a quantidade residual da enzima. O achado em medula óssea ou outros tecidos de células de Gaucher, macrófago com depósito lipídico intracitoplasmático e que apresenta citoplasma com aspecto de papel amassado, sugere o diagnóstico.

    
    O acúmulo de glucosilceramida na medula óssea, fígado e baço leva à pancitopenia e à acentuada hepatoesplenomegalia. Acometimento ósseo leva ao afinamento da córtex medular, fraturas patológicas, dor óssea, infartos ósseos e osteopenia. A maioria dos pacientes apresenta sinais radiológicos de envolvimento ósseo, sendo comum deformidade do fêmur, com aspecto de frasco de Erlenmeyer, decorrente da expansão medular e de remodelamento do fêmur distal devido ao acúmulo de histiócitos.




     O diagnóstico da doença de Gaucher atualmente requer a demonstração de diminuição da atividade da enzima β−glicosidase ácida em leucócitos ou em cultura de fibroblastos. O estudo genético com a identificação da mutação no gene da β−glicosidase, localizado no cromossomo 1q21, pode também ser realizado e deve ser oferecido aos familiares dos pacientes. 
     No passado, o tratamento da doença de Gaucher incluía transfusões de sangue para a correção da anemia, esplenectomia, além de analgésicos e procedimentos ortopédicos corretivos.
     O tratamento atual para o tipo 1 consiste na reposição periódica da enzima β−glicosidase recombinante. A maioria das alterações extra-esqueléticas pode reverter com o tratamento de reposição enzimática, que também melhora as dores ósseas e estabiliza a doença óssea. Para os tipos 2 e 3 da doença de Gaucher não há ainda terapêutica adequada.

Relato de caso:

Criança de três anos e seis meses, sexo masculino, branco, natural e procedente de Uberlândia, atendido no Ambulatório de Pediatria do Hospital de Clínicas da UFU em 2007, com história de anemia e esplenomegalia há dois anos e oito meses, episódios de icterícia intermitentes e edema facial matutino esporádico (sic).
A criança foi internada aos dez meses com quadro de pneumonia comunitária, e observou-se, nessa ocasião, anemia e esplenomegalia, investigadas posteriormente por diversos serviços médicos sem definição diagnóstica. Houve uso crônico de sulfato ferroso para tratamento da anemia, sem sucesso. O teste de triagem metabólica não revelou alterações. Havia história familiar de parentes de segundo grau com anemia de etiologia não definida e colelitíase, sendo os pais não consanguíneos.
Ao exame físico apresentava mucosas hipocoradas; sopro sistólico em focos mitral e tricúspide sem frêmito ou irradiação; baço palpável a 7cm do rebordo costal esquerdo de consistência endurecida; fígado palpável a 2cm do rebordo costal direito, de consistência fibroelástica, indolor à palpação; crescimento pôndero-estatural adequado para idade; e exame neurológico sem alterações. Exames laboratoriais evidenciaram anemia normocítica e normocrômica (Hemoglobina: 11,5g/dL; VCM: 77,9fL; HCM: 25,9pg) e plaquetopenia (106.000/mm3). Leucograma, reticulócitos, perfil do ferro, eletroforese de hemoglobina, Coombs direto, pesquisa de microesferócitos, curva de fragilidade osmótica, avaliação das funções hepática renal e tireoidiana sem alterações. Sorologias para toxoplasmose, HIV, hepatite e citomegalovírus negativas. A ultrassonografia abdominal confirmou esplenomegalia moderada.
Após esses exames foi realizado mielograma, que constatou infiltração medular por células compatíveis com a morfologia das células de Gaucher. O teste enzimático (dosagem de BGA) em leucócitos e em papel de filtro foi realizado, e o resultado confirmou o diagnóstico de DG. Após o diagnóstico, exames foram realizados para verificar acometimento sistêmico. As radiografias de tórax, coluna cervical, torácica e lombar foram normais. A avaliação neurológica não evidenciou alteração. O aconselhamento genético familiar e a terapia de reposição enzimática com imiglucerase foram solicitados, além de acompanhamento ambulatorial do paciente pela Pediatria, Neurologia e Hematologia.

Referências:
FERREIRA, C.S. et al. Doença de Gaucher - uma desordem subdiagnosticada. Rev. Paul. Pediatr. SP, 2011.
FONSECA, G.H.H. e SILVEIRA, P.A.A. Doença de Gaucher. Einstein, 2007.

Phelipe Gabriel
acadêmico de medicina
presidente da LAPAT


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Imperdível

Vem aí o INTERLIGAS, evento promovido pelas Ligas Acadêmicas de Cardiologia, Nefrologia, Neurologia e Patologia, todas reconhecidas pelo colegiado de medicina da UFSJ. Não percam! O tema deste ano será "Órgãos Vitais". Mais informações serão divulgadas em breve.

Phelipe Gabriel

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Ectopia Cordis




A ectopia cordis (do grego ektopos = fora do lugar) é uma cardiopatia congênita rara, ocorrendo em 5,5 a 7,9 por milhão de recém-nascidos, mais no sexo feminino. Caracteriza-se pela posição anômala do coração, fora da cavidade torácica, sendo a forma torácica a apresentação mais comum (59%) e de melhor prognóstico. Há ainda as formas abdominal, toracoabdominal, cervical e cervicotorácica.
Resulta de defeito na fusão da parede torácica ventral. Normalmente, está associada a outras cardiopatias congênitas intracardíacas, sendo as más formações troncoconais as mais comuns. O diagnóstico pré-natal tem melhorado muito e pode ser realizado por volta da 10ª semana como forma de prevenção.



A cirurgia é a única opção terapêutica, que, com a melhoria da proteção miocárdica e do suporte per e pós-operatórios, tem proporcionado melhor taxa de sobrevida. Várias técnicas cirúrgicas têm sido descritas, podendo a doença ser abordada em um ou dois estágios cirúrgicos. O primeiro estágio é realizado em caráter de urgência e visa a obter pele e tecido mole para recobrir o coração. Todavia, nem sempre é possível; e, devido ao baixo débito cardíaco, há necessidade do uso de próteses. A finalidade do segundo estágio é a correção das cardiopatias congênitas associadas e reconstrução do esterno.



Referências:
MADHAVI, D. et al. Thoracic Ectopia Cordis – a case report. International Journal or Biomedical Research, 2012.
GONÇALVES, F.D. et al. Ectopia cordis torácica com coração anatomicamente normal. The Brazilian Journal of Cardiovascular Surgery, 2007.

Phelipe Gabriel
acadêmico de medicina
presidente da LAPAT

terça-feira, 8 de maio de 2012

Esteatose Hepática no contexto da Obesidade




Obesidade, moderada ou patológica, representa hoje um dos mais importantes problemas de saúde pública: em todos os continentes, populações desenvolvidas, em desenvolvimento ou subdesenvolvidas mostram aumento progressivo no número de pessoas com peso acima do aceito como normal para a idade, com frequência associado a aumento do risco para doenças cardiovasculares e diabetes do tipo 2. Essa verdadeira epidemia de obesidade deve-se principalmente à ingestão excessiva de energia associada ao sedentarismo. Frente à ingestão excessiva de energia, o organismo adapta-se mediante aumento do gasto energético e armazenamento de gordura no tecido adiposo, além de diminuição do apetite. No entanto, essa adaptação é limitada e depende do padrão genético do indivíduo, razão pela qual dieta rica em calorias em diferentes pessoas leva a obesidade em frequência e graus variáveis.
                A obesidade associa-se comumente a alterações metabólicas importantes que caracterizam uma nova entidade clínica, conhecida como Síndrome Metabólica, cujos componentes principais são:
  • Obesidade central – circunferência abdominal aumentada;
  • Dislipidemia – aumento de triglicerídeos e redução de HDL;
  • Intolerância à glicose, geralmente acompanhada de resistência à insulina;
  • Hipertensão arterial sistêmica;
  • Esteatose Visceral;
  • Aumento do risco para doença cardiovascular aterosclerótica e diabetes do tipo 2.

A esteatose visceral da síndrome metabólica manifesta-se no fígado, nas ilhotas de Langerhans, nos músculos esqueléticos e no miocárdio. No fígado, o excesso de ácidos graxos, inicialmente compensado por aumento da β-oxidação e da síntese de triglicerídeos e lipídeos complexos, induz aumento da oxidação de ácidos graxos no retículo endoplasmático liso e em peroxissomos. Com isso, ocorre aumento de radicais livres, que alteram proteínas do citoesqueleto e dificultam o transporte de lipoproteínas, favorecendo o acúmulo de triglicerídeos no citosol, os quais estão com síntese aumentada.
Essa esteatose não alcoólica (também denominada doença gordurosa hepática não alcoólica) pode evoluir para estato-hepatite não alcoólica, que, além de esteatose, apresenta corpúsculos de Mallory, degeneração hidrópica acentuada dos hepatócitos e fibrose, podendo chegar a cirrose hepática. Os corpúsculos de Mallory formam-se por ação de radicais livres (originados da excessiva oxidação de ácidos graxos no retículo endoplasmático) sobre proteínas do citoesqueleto.


A inflamação, representada pela exsudação de neutrófilos e alguns macrófagos, é secundária à necrose focal de hepatócitos, também por ação de radicais livres. A fibrose, do tipo pericelular, resulta de ativação de células estreladas por citocinas liberadas nos focos de inflamação e por aldeídos originados da peroxidação lipídica. Além de necrose focal, há apoptose de hepatócitos induzida por aumento da síntese de ceramida.

Referência:
BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo: Patologia, 8ª ed, Guanabara Koogan, 2011 (adaptado)

Phelipe Gabriel
acadêmico de medicina
presidente da LAPAT